Viajem a Darjeeling (USA, 2007)

Entre o final da década de 90 e o começo do novo milênio houve um boom de novos cineastas, que podem ser analisados de forma mais crítica agora, depois do frenesi em torno de suas primeiras obras. Um caso especialíssimo é o de Wes Andreson. Desde o elogiado Três é Demais, passando por Os Excêntricos Tenembauns e A Vida Marinha, o diretor criou uma espécie de dimensão paralela, onde seus personagens e situações poderiam existir em harmonia. Apesar de não ter visto Três é Demais, suas outras obras me marcaram, por tratarem sempre de pessoas tentando fugir de algo ao mesmo tempo em que querem voltar a se sentir parte de uma estrutura, como a família. Minha maior crítica está no fato de os filmes serem sempre plasticamente impecáveis mas frios no que diz respeito ao conteúdo. O ápice dessa frieza aparece em A Vida Marinha, quase um cubo de gelo no que diz respeito ao tratamento dos personagens. Esse ponto melhorou muito no novo filme do diretor: Viajem a Darjeeling. A frieza ainda está lá? SIM! E de mãos dadas com a ironia, o humor tosco, os diálogos afiados, os atores de sempre, a edição perfeita, as câmeras-lentas (ai ai) e o uso de canções que estão ali para adicionar mais significado as cenas, sem pretensões de vender milhões de álbuns. Esse, aliás, é um ponto que me deixa bastante curioso. Os filmes do Wes nunca rendem muito e geralmente não são uma unanimidade entre os críticos. Então como ele continua a fazer suas obras? Eu apostaria na mãozinha dada pela família Copolla e pelos inúmeros amigos influentes do diretor. Seja qual for a razão é sempre bom saber que de 2 em 2 anos (mais ou menos) seremos todos atacados por um misto de estranheza e personalidade, algo cada vez mais raro nos multiplexes de shoppings.

p.s. Não sei se todas as cópias distribuídas no Brasil vem com o curta Hotel Chevalier, que precede o filme e tem ligação direta com o enredo deste. Se a cópia que você viu não tinha, procure na internet. É como a entrada para o prato principal. E eu já estou com fome de novo.

****1/2