Biutiful x Hereafter

Biutiful (Mexico, Spain 2010)
Hereafter (USA, 2010)
Em 2010 foram lançados vários filmes tratando da vida após a morte. Duas das maiores bilheterias nacionais vieram de filmes relacionados ao Chico Xavier. Confesso que o assunto, da forma religiosa como é tratado, não me atrai muito. Durante os últimos dias assisti dois filmes estrangeiros que se assemelham no tema, mesmo que explorado de forma bastante diferente. O mexicano Biutiful, lançado em Cannes onde não impressionou muita gente, trata de um homem que mora num morro do Rio de Janeiro (ops, desculpa, em Barcelona) e se mete em todo tipo de negócio ilegal para dar sustento aos seus dois filhos, já que ele com certeza não conseguiria nenhum trabalho minimamente honesto. Sua ex mulher dorme com seu irmão e é louca, seu filho mais novo fuma (ele deve ter 6, no máximo), ele é explorado por chineses homossexuais e explora negros. Não posso esquecer do fato que ele possui dons paranormais e pode se comunicar com os mortos, ou ser assombrado por eles (em cenas com fantasmas no teto que me lembraram algum terror japonês) e tem uma doença terminal, que o faz reavaliar essa delícia de vida que ele vinha levando. Eu não sou contra dramas humanos retratados no cinema, na verdade gosto bastante deles, desde que gerem algum tipo de reflexão, de algo maior. O triste pelo triste não me comove muito, já que uma vez que a tragédia começa, você sabe que é daí pra baixo. Mas toda vez que o diretor Alejandro González Iñárritu lança um filme, já se sabe que o tema não vai ser a felicidade. Tudo isso, porém, não me fez achar o filme ruim e o culpado disso é Javier Bardem. Sua presença de tela é absolutamente magnética e ele consegue tranformar um personagem que tinha tudo pra dar errado, em alguém digno de pena. Outro ponto positivo foi a decisão de deixar o filme linear, algo novo na carreira do diretor, que sempre embolava tudo pra depois desembolar. No mais está tudo lá, a fotografia escura (embora confesso, com momentos bem bonitos) e a trilha do Gustavo Santaolalla (muito boa). Mesmo que muitos tenham dito que o filme perderia muito sem a parceria com o roteirista Guillermo Arriaga, não achei nada muito drástico.
Por outro lado, temos a obra de um diretor que não precisa provar mais nada. Autor de obras-primas como Sobre Meninos e Lobos e Os Imperdoáveis, Clint Eastwood pode não ter feito nada memorável com esse último filme, mas a sutileza com que algumas cenas são conduzidas, é algo tipico de alguém que não quer impressionar ninguém, mas simplesmente fazer algo bom, sem muitas pretensões. Dono de um estilo sempre direto, ele se aventura no mundo dos filmes com múltiplos personagens que por conta do destino (embora aqui esse destino pareça mais uma decisão de última hora pra fechar o roteiro) se encontram no final. Essa é a grande qualidade do filme, assim como seu calcanhar de Aquiles. Talvez por não estar acostumado com a complexidade de conduzir três tramas ao mesmo tempo, algumas cenas acabam por durar demais, tirando o impacto de cenas que duram de menos. Enquanto no filme mexicano a estética era propositalmente suja, aqui a Europa e os EUA são filmados como comercial de margarina, sempre ensolarado. Ainda assim existem cenas memoráveis, como toda a sequência inicial (que sozinha fez o filme ganhar uma indicação na categoria de efeitos especiais). No mais, temos uma obra que namora com a idéia de que a morte não é realmente o fim, mensagem natural para um diretor que está quase lá.
Biutiful ***1/2
Hereafter ***

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