The Great Gatsby (Australia, USA, 2013)

Tenho um apreço muito grande pela obra de Scott Fitzgerald, em especial pelo seu romance de 1925, que calhou ser a base do último filme do diretor australiano Baz Luhrmann, não tão apreciado por mim quanto o escritor. Marcado pelo seu flamboyant Moulin Rouge, Buhrmann vem tentando, de forma desastrada com o fraco Australia (2008) e agora com o exagerado Gatsby, repetir o sucesso de seu filme de 2001, que conquistou a crítica, 2 Oscars, mais 5 indicações e outras dezenas de prêmios. Embora não seja dos mais enfáticos defensores do estilo cabaret moderno de Moulin Rouge, considero inegável a sua superioridade em relação a O Grande Gatsby.   

Mas voltemos ao clássico romance de Fitzgerald que, afinal, é a única razão pela qual vale a pena se interessar pelo filme de Luhrmann em primeiro lugar. Durante as duas vezes que li o romance (a última delas motivada pelo anúncio de produção desta adaptação) fiquei extasiado com o conteúdo cinematográfico da obra. Apenas alguns anos depois da gênese do cinema, quando este ainda estabelecia a base sobre a qual se desenvolveria durante as décadas posteriores, Fitzgerald cria uma obra praticamente visual, pronta para as telas. Um romance tão bem escrito que conseguiria sustentar com força clássica mesmo uma adaptação medíocre. Fato consumado pelas 5 adaptações que se seguiram, sendo a primeira delas realizada em 1926, apenas um ano após o lançamento do livro. 


Tenho a nítida impressão de que a história é tão pronta que uma adaptação literal, sóbria e coerente, com o mínimo de apreço pelas técnicas cinematográficas, seria o suficiente para tornar essa obra-prima da literatura em um filme tão relevante e genial quanto. Por isso, empresto aqui as palavras de Carraway em algum momento do filme: "se isso é verdade, então pra que tudo isso?"
  
Para que todo esse exagero estilístico, estético, grandiloquente e absurdo para gerar uma visão distorcida de uma das histórias mais ricas da literatura do século XX? Para que tentar impor toda a opulência do hip-hop cash-mashine de Jay-Z ao visual cabaret herdado de Moulin Rouge e dizer que é culpa de Gatsby? Para que esse recurso narrativo titanesco de incluir um médico para servir de muleta ao narrador? A meu ver, tal recurso é semelhante à muleta utilizada por Gatsby em alguns momentos do filme: tão desnecessária para um roteiro que mira um clássico consagrado quanto uma muleta para um jovem de 32 anos. 


O diretor só não erra mais por respeitar a obra original e tentar fazer uma adaptação literal, senão de um ponto de vista estilístico, ao menos de um ponto de vista lírico e narrativo. Se o filme não é um completo desastre, certamente deve-se ao respeito que o diretor australiano prestou a Fitzgerald – jamais por crédito de Luhrmann e seu elenco sub-utilizado. Respeito é bom, Luhrmann, mas seu filme – não obstante a genialidade latente da obra original – infelizmente não é.

Eder Costa


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