The Wolf of Wall Street (USA, 2013)

A década de 70 (pegando aqui um pouquinho do final dos anos 60) é considerada uma das mais importantes dentro da cinematografia norte-americana. Foi quando uma espécie de movimento, de revolução, tomou hollywood de surpresa, mudando a forma de fazer e ver filmes. Mesmo sendo considerado uma espécie de espelho da sociedade (e do tempo) em que é feito, o cinema demorou um pouquinho mais que outras artes para expressar o turbilhão de mudanças trazidas pela guerra do Vietnã, pelos hippies e pelas drogas. Ainda que tarde, quando aconteceu foi devastador, uma troca de bastões, uma divisão entre os sexagenários que comandavam a indústria (e que não conheciam mais o seu público) e toda uma nova geração de diretores recém-saídos de escolas de cinema. São eles: Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, George Lucas, Martin Scorcese e muitos outros, que ajudaram a reviver um cinema moribundo, prestes a ser engolido pela televisão. Hoje em dia as coisas são bem diferentes, pois os sexagenários agora são eles; Spielberg parece ter perdido a capacidade de surpreender, Coppola não lança um filme digno de nota há pelo menos vinte anos e George Lucas será sempre conhecido por criar (e depois destruir) a saga Guerra nas Estrelas. Felizmente, Scorcese continua conseguindo comunicar-se com o público de hoje e O Lobo de Wall Street talvez seja a maior prova desta habilidade.



Em sua quinta colaboração com o diretor, Leonardo DiCaprio intrepreta Jordan Belfort, o típico personagem em busca do sonho americano. De origem singela e casado com uma cabeleireira, ele começa a trabalhar no mercado de ações com a intenção de ganhar rios de dinheiro e, bem, ele consegue. Beirando perigosamente entre a sátira e a admiração (algo que também me incomodou em Bling Ring e Spring Breakers) Scorcese nos faz acompanhar a ascensão e queda de Belfort, mas ele o faz de maneira por vezes tão magistral, que fica difícil falar mal. É de se admirar que um senhor, no alto dos seus 71 anos, tenha conseguido fazer algo tão bem orquestrado e extremamente subversivo. Fazendo um estudo sobre excessos e vícios (sexo, dinheiro e, sim, muitas drogas) ele cria um épico moderno com quase três horas de duração. ainda assim, dizer que nem vi a hora passar seria mentira, pois o filme é longo e por vezes tão histérico que cansa.



Acompanhado por um grupo de (na maioria) excelentes atores, DiCaprio tem o melhor papel de sua carreira, mas tem a cena roubada diversas vezes por outro ator: Jonah Hill. Conhecido por fazer rir, ele agrega uma faceta de instabilidade e loucura ao personagem, algo que me fez lembrar imediatamente da parceria entre o diretor e Joe Pesci (Os Bons Companheiros talvez seja a maior semelhança). Como quase sempre acontece em seus filmes, os personagens femininos cumprem um papel mais decorativo que narrativo e não deixa de ser frustrante imaginar quanto o filme poderia beneficiar-se de um maior desenvolvimento destes personagens.



Com referências que vão de Freaks (1932) à Instinto Selvagem (1992), Scorcese consegue fazer rir com uma crítica à sociedade e ao estilo de vida que ajudou a criá-lo. Poderia parecer ingratidão ou até mesmo um ato senil se, como eu disse anteriormente, não fosse possível sentir uma pontinha de admiração neste processo da busca pelo sucesso incondicional a qualquer preço.

Adam George Fischler

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