Dallas Buyers Club (USA, 2013)


Em junho de 1981, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos registrou os primeiros casos de uma misteriosa doença que rapidamente provocou uma epidemia. Em 1985, Ron Woodroof, um eletricista texano, foi diagnosticado com AIDS e informado sobre o pouco tempo de vida que lhe restava. Também neste ano, a Fundação Burroughs-Wellcome começou a fazer uma série de testes aleatórios com controle por placebo do AZT, única droga que até então prometia prolongar a vida de pessoas infectadas com o vírus HIV.

Este é o pano de fundo da história contada em Dallas Buyers Club, filme de Jean-Marc Valée, que opta por começar a narrativa retratando a vida do cawboy Ron Woodroof (Matthew McConaughey) um pouco antes de saber que está contaminado pelo vírus HIV. Logo no início, o personagem nos é apresentado de forma abrupta, introduzindo-nos em um mundo sujo e miserável, regado a muita prostituição e homofobia.


A opção do diretor de inicialmente nos mostrar um Woodroof sujo, drogado e sacana certamente faz com que cada vez mais, com o desenrolar do filme, tenhamos certeza de que se trata de mais um anti-herói americano. Ao saber de sua condição, Ron fica transtornado e rejeita seu diagnóstico, principalmente pelo fato da AIDS, na década de 1980, ser associada a homossexuais. Após realizar algumas pesquisas sobre a doença e lembrar-se de momentos em que possivelmente poderia ter contraído o vírus (neste momento o personagem tem um flashback e se recorda de cenas que poderiam nos fazer pensar em uma possível relação homossexual), Ron Woodroof passa a vivenciar um novo estágio de desolação: “não estou pronto para ser posto de lado”.


É com esse ímpeto por vida, ou simplesmente medo da morte, que o texano inicia uma batalha contra a doença e contra o FDA, órgão responsável pelo teste e liberação de novos medicamentos nos EUA, e uma busca desenfreada e irresponsável por medicamentos. Quando descobre uma combinação de remédios que amenizam seu estado imunodeficiente, Woodroof cria o famoso Dallas Buyers Club e, juntamente com seu sócio, o travesti Rayon (Jared Leto, em uma incrível atuação), fornece combinações medicamentosas eficientes – que mais tarde comporiam os famosos coquetéis contra a AIDS – a centenas de aidéticos.


Além de historicamente retratar o início conturbado e perturbador da propagação da doença e demonstrar as incongruências resultantes da avidez da indústria farmacêutica americana e do FDA, o filme possui atuações que certamente nos serão inesquecíveis. Até ver este filme, tanto Matthew McConaughey quanto Jared Leto ainda não haviam me convencido de que valia a pena vê-los atuando na grande tela. A secura da relação que esses dois personagens estabelecem é outro ponto alto do filme. Eles se aproximam porque possuem interesses em comum e porque, se pensarmos em termos estruturais da narrativa, Rayon (Jared Leto) é o responsável por provocar ações em Woodroof que mostram sutilmente ao telespectador o desaparecimento de um cawboy homofóbico e o surgimento de um indivíduo empreendedor um tanto quanto complacente, sem, contudo, fazer com que o filme se torne piegas, previsível e romantizado.  

Carolina Becker

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