Nebraska (USA, 2013)

            
             As contemporâneas narrativas de viagem, geralmente, mais do que expressar um movimento de partida e chegada e, talvez, de um retorno sem volta – se pensarmos nas mudanças subjetivas sentidas pelos personagens – representam uma forma de alienação daquilo que é igual em prol do que pode ser diferente. Viajar é, portanto, sair de si.

            Diferente do que comumente observamos em narrativas clássicas que possuem a viagem como tema, as viagens empreendidas na ficção moderna não têm como ponto de interesse o ponto de destino. É o desenrolar do movimento que importa para o viajante, o que faz com que seu deslocamento seja a própria meta da viagem. Ou seja, atualmente, a viagem, no cinema e na literatura, possui uma conotação alegórica que indica a necessidade humana de desterritorialização e consequente territorialização, representando uma tentativa de busca de algo subjetivo e não palpável. Nesse sentido, é inevitável pensarmos – de maneira metafórica, é claro – na figura do nômade como aquele que é errante e move-se em uma determinada direção, sem, contudo, estabelecer uma direção pré-determinada.      
  
            Ora, é com essa premissa que Alexander Payne, que já havia dado mostras que simpatiza com as narrativas de viagem (é só nos lembrarmos de Os descendentes, de 2011, e de Sideways, de 2004), constrói Nebraska, seu mais novo road movie. O personagem responsável pela jornada da vez é Woody Grant (interpretado por Bruce Dern), um senhor teimoso que acredita que ganhou US$ 1 milhão. Ao receber pelo correio um folder de propaganda com a promessa milionária, Woody tenta diversas vezes sair em busca de seu prêmio que se encontra em Lincoln, Nebraska.


            Após diversas tentativas da família de fazer Woody desistir de ir em busca de seu prêmio, seu filho David (Will Forte) se convence que é melhor que o pai veja seu engano com os próprios olhos. Em uma viagem que significa um retorno ao passado e um resgate afetivo da relação entre pai e filho, vivenciamos, juntamente com os personagens, momentos hilários que só acontecem porque Woody ingenuamente acredita que ganhou um milhão de dólares.

            No caminho até Lincoln, pai e filho passam por Hawthorne – uma pequena cidade, no sul dos EUA, onde Woody e sua família possuem suas raízes –, que funciona como a representação de uma sociedade estática e desinteressante, cujo interesse passa a ser justamente o fato de Woody ter voltado e, ainda, com um milhão no bolso. A forma como as pessoas reagem à notícia de que Woody é agora um milionário só nos aproxima de uma realidade muito conhecida pela maioria de nós: a cobiça humana – a maioria das pessoas que interagem com Woody e sua família em Hawthorne revelam um interesse voraz em sua fortuna prometida.


        Talvez o melhor de Nebraska seja justamente o reconhecimento da humanidade presente nos personagens. É quase impossível não lembrar de alguém conhecido ao ver a atuação de Bruce Dern, ao reconhecer a paciência cansada de seu filho David ou ao ficar indignado com a cobiça dos familiares e amigos de Hawthorne. Esse sentimento de reconhecimento torna-se ainda mais intenso porque todo esse retrato é pintado de forma equilibrada, sem exageros, aumentando a identificação do telespectador e acentuando os incríveis momentos de humor presentes no filme.


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Carolina Becker

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