Taekwondo (Argentina, 2016)

Lembro como se fosse hoje dos primeiros dias que vivi em Buenos Aires e da enorme carga erótica que a cidade parecia ter, em coisas tão banais como andar na rua ou pegar o metrô.

Eu demorei um bom tempo para assimilar situações culturais tão distintas, ainda que vindas de um país tão "hermano".

Lá os homens se cumprimentam com um beijo no rosto, despido de qualquer segunda intenção, porém o que mais me desconcertava era o contato visual constante vindo de gays e héteros, deixando muito difícil de saber quem é o que. Eles não desviam o olhar.

A grande maioria dos filmes do diretor Marcos Berger trata de uma espécie de inserção do ser gay em um mundo predominantemente macho e hétero, mostrando o quão tênue pode ser a linha entre a simples brodagem e o desejo sexual.


Em Taekwondo, Fernando convida Germán a ficar uma temporada em sua casa de campo junto a vários outros amigos, que passam esses dias, jogando bola, fumando, conversando, dormindo e nadando na piscina.

A atmosfera de constante ócio ajuda Berger a criar um clima de tensão no desfilar ininterrupto de nus masculinos e planos detalhe de peitorais, bundas, virilhas, axilas e pés, filmados com uma carga de erotismo que beira o insuportável.












O filme deixa claro desde o princípio que Germán é gay, apesar de não assumir-lo para nenhum dos amigos de Fernando, ainda que exista uma espécie de consenso e aceitação entre eles de que este último "corta para os dois lados".

Apesar da tensão sexual entre os protagonistas ser um constante gozo interrompido, que ensaia, ensaia e não se concretiza (algo bastante comum nos filmes do diretor), a preocupação com os outros personagens é cativante, ainda que pouco desenvolvida.

Muitos criticam Berger por sempre mostrar desejos prestes a serem concretizados, mas nunca a ação ou os resultados dessas ações. Eu acho isso injusto, pois a proposta do diretor não é mostrar dois homens namorando ou transando, e sim a barreira que separa o gay do hétero, e como as vezes ela é não é tão sólida como muitos parecem acreditar.

Talvez o filme ganhasse mais pontos se houvesse uma variedade maior de tipos masculinos, e não o eterno desfile de corpos sarados, que podem desviar um olhar menos atento e transformar a experiência toda em um soft porn vazio.

***1/2

Adam George Fischler

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